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quinta-feira, 9 de agosto de 2012


A grandeza da sobrevivência.
O sol ainda não nasceu na periferia, mas, para muitos o dia já havia começado. Já era hora de se levantar e ir mais uma vez para o laranjal. O transporte não viria, seria uma longa caminhada, três quilômetros de estrada o esperavam. Não reclamava da sorte, pai de quatro filhos, seu José ia cantando para a lavoura. Ele mais do que ninguém sabia de sua responsabilidade. Analfabeto, excluído do privilégio da educação, nada entendia de política ou de economia. O que sabia era a cultura necessária a sua sobrevivência, era como colher os frutos da terra, ver o ácido da plantação de laranja escorrer, nem sabendo que esse ardor corrompia suas digitais.
A vida para esse bom homem se resumia em trabalho e fé. Carregava na velha carteira furada a imagem da santinha que nunca lhe abandonara. Era filho da terra, sabia da ciência do plantio melhor do que ninguém, embora fosse apenas servo dela. Na mesma carteira, não havia um tostão se quer. Tudo o que tinha foi deixado pra matar a fome de sua família, mas nem por isso entoava um canto melancólico, era como se ele nem se importasse com a aparência deprimente de seu bolso.
Longe dos bairros nobres, da opulência opressora da riqueza, seu José era feliz. Amava muito a mulher que Deus lhe dera, batalhadora e guerreira, lavava roupas para diversas senhoras e sempre que podia fazia outros bicos. Seus filhos apesar de não possuírem tudo que ele desejava oferecer, eram obedientes, daqueles que pedem a benção ao amanhecer e entardecer.
Sua vida se resumia a essa passividade contínua, trabalhava, cantava, rezava, cuidava de sua família da melhor forma que conseguia. É, existem inúmeros Josés espalhados pelo mundo. Principalmente, nos países subdesenvolvidos. Homens e mulheres que vivem pelo hoje, pela próxima refeição, seus corpos nada necessitam, além de alguns cuidados. Já a alma é preenchida, da serenidade de não conhecer a corrupção trazida pela ganância.  
Dinheiro, riquezas, fartura, complementariam sim a vida dessas pessoas. Mas, em hipótese alguma os fariam felizes. Pois, um cartão de crédito não compra paz, amor, amizade, união... Nada que se digne ser nomeado eterno ou durável. A vida não se resume as coisas efêmeras para pessoas assim, a vida ganha um sentido quando seres assim a vivem...

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